Educação básica e formação profissional: entre a multitarefa e a reflexão
O pote de burnout no fim do arco-íris
Na Grécia Antiga, o pressuposto para praticar a Filosofia era estar no tempo livre. A reflexão filosófica, pensavam os gregos, dependia da ociosidade, pois uma mente ocupada com outras questões não realizaria bem a atividade racional. Contudo, a sociedade contemporânea, influenciada pela ideologia neoliberal, em nome da produtividade suprime o ócio e condiciona os indivíduos a, sempre que possível, resolver mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Como que em uma maratona interminável, eles percorrem um caminho cujo fim é a exaustão física e psicológica. Nesse cenário, a educação é essencial para formar profissionais que saibam equilibrar o ofício com a qualidade de vida.
Em primeiro lugar, o neoliberalismo, ao enfatizar a meritocracia, coloca o indivíduo como o único responsável pelo seu sucesso — ou fracasso — econômico. “Coaches”, , por exemplo, com seus livros e suas palestras motivacionais, são contratados por empresas para aprimorar o rendimento dos funcionários. A figura do mentor — antes associada a um guia para a vida — se tornou crucial para quem quer progredir na carreira. O trabalho, nessa conjuntura, é a tônica da existência. Desse modo, o ócio não é experimentado com prazer, mas culpa — afinal, a diversão não ajuda a conquistar o cargo almejado. Ademais, a multitarefa, aparentemente, permite maior produtividade. Todavia, viver em um estado de atenção difusa intensifica o esgotamento o qual todos estão sujeitos na coletividade. Em vez de transformar o homem em uma máquina mais eficiente, a tentativa de realizar vários compromissos ao mesmo tempo, além de diminuir a qualidade dos resultados, acelera a velocidade com que ele alcança o pote de burnout no fim do arco-íris. Logo, é imprescindível a mudança desses valores que impossibilitam o ócio saudável.
A educação, por sua vez, é o meio pelo qual a sociedade poderá superar esse desafio. Conforme afirmou Paulo Freire, não basta, durante o letramento, ensinar ao aluno que “Eva viu a uva” , mas apresentar o saber de forma que o aluno saiba refletir para contextualizar a frase aprendida na sua vivência. Essa posição pedagógica é relevante para o problema abordado, porque objetiva aliar o ensino técnico à formação de cidadãos com autonomia crítica – nesse caso, trabalhadores que consigam aproveitar o ócio. Assim, uma escola que não opere em ritmo frenético, colocando os alunos para fazer mais e mais exercícios, por exemplo, contribui com o desenvolvimento de uma relação sadia com o tempo livre, ao não pressionar os discentes a produzir constantemente. A adoção, no ambiente educacional, de atividades voltadas para a introspecção, o convívio e as brincadeiras coletivas fortalecem o senso de que há, na vida, momentos nos quais o lazer é um imperativo para o bem-estar. Portanto, o sistema educacional pode ser o remédio para essa doença que só traz cansaço.
Em suma, a necessidade de melhorar a produtividade e o uso da atenção dispersa em mais de uma tarefa extenuam o indivíduo da contemporaneidade. Diante disso, uma educação que priorize o desenvolvimento intelectual somado com uma contemplação saudável do ócio é o que pode resgatar o envolvimento adequado do homem com o lazer
Refugiados ambientais e vulnerabilidade social
Os problemas por trás da perpetuação da vulnerabilidade social vivida por refugiados ambientais
O quadro “Os retirantes” de Cândido Portinari apresenta a imagem de um grupo de refugiados do sertão nordestino, o qual precisou se deslocar de seu local de origem por conta das consequências induzida pelas secas na região. Embora a obra tenha sido elaborada no século XX, a condição das pessoas pintadas no passado é uma realidade cada vez mais presente na atualidade, com o aumento significativo do número de refugiados climáticos e a marginalização desses indivíduos na sociedade. Dessa forma, percebe-se que há uma crescente quantidade de refugiados ambientais que se encontram em uma posição de vulnerabilidade social, por causa da busca desenfreada por lucro por parte de empresas no contexto capitalista contemporâneo e porque há uma ausência de reconhecimento em relação a situações dessas pessoas pela maioria da população.
Nesse contexto, as ações tomadas por corporações buscando o lucro dentro do capitalismo da contemporaneidade têm contribuído para o crescimento da quantia de indivíduos reconhecidos como refugiados climáticos e se encontram vulneráveis na sociedade. Isso ocorre, porque empresas e indústrias, no atual contexto neoliberal, têm acelerado e agravado as mudanças climáticas que geram os desastres naturais que levam aos deslocamentos forçados, visto que essas corporações somente querem o lucro produzido por suas vendas, sem se responsabilizar pelos impactos ambientais que suas produções podem causar. O desmatamento e a emissão de gases do efeito estufa por essas grandes empresas, por exemplo, podem contribuir para o aquecimento global, o que leva a inviabilização de uma boa qualidade de vida em certas regiões, forçando o êxodo de indivíduos locais, os quais, muitas vezes, não possuem as condições para criar uma vida digna em um novo lugar. Logo, a intensificação de mudanças climáticas, as quais acarretam na impossibilidade de moradia em diversos locais, ocasionada pela tomada de atitudes por parte de corporações que somente visam o lucro, ajuda na criação de novas populações de refugiados ambientais que estão em vulnerabilidade social.
Além disso, a falta de reconhecimento da realidade enfrentada por refugiados climáticos pela maior parte das pessoas presentes na sociedade auxilia na marginalização desses indivíduos dentro do corpo social. A ausência de divulgação sobre as condições de vida de refugiados ambientais e sobre as ações que levam às mudanças climáticas que promovem as migrações forçadas fazem com que esse grupo seja invisibilizado, uma vez que dificulta a elaboração de medidas, legislação e estrutura que possam impedir que esse fenômeno continue a se reproduzir e que ajudem esses indivíduos na sua menção na sociedade, a fim de que tenham acesso a básicas, moradias e alimentos necessários para a sobrevivência. Assim, nota-se que a ausência de divulgação de informações sobre a realidade de retirantes ambientais gera a escassez de conhecimento e provoca a invisibilização desse grupo do corpo social, o que impede que tenham acesso a elementos essenciais para a manutenção da vida.
Conclui-se, portanto, que as atitudes de corporações que buscam o lucro e provocam a intensificação e a aceleração de mudanças climáticas e a escassez da divulgação de conhecimento em relação a situação de retirantes ambientais e a consequente invisibilização desse grupo contribuem no aumento da quantidade de refugiados ambientais que se encontram em vulnerabilidade social presentes na sociedade capitalista de hoje. Então, consta-se que, se ações não forem realizadas para frear e reverter as consequências causadas pelas mudanças climáticas, a cena capturada no quadro de Cândido Portinari se perpetuará nas vidas de muitas outras vítimas nos próximos anos.
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